Os mercados financeiros apostavam que o Presidente Trump estava blefando sobre sua última rodada de tarifas sobre o México e o Canadá. Essa aposta não valeu a pena. Na semana passada, ele dobrou a aposta, confirmando que uma tarifa de 25% sobre as importações desses países entraria em vigor imediatamente. Simultaneamente, as tarifas sobre produtos chineses aumentaram em mais 10%. O mercado não recebeu bem a notícia, e as ações dos EUA caíram.
A principal preocupação em relação às tarifas é seu potencial para desacelerar o crescimento econômico. A Tax Foundation estima que as novas tarifas impostas ao México e ao Canadá poderiam reduzir em 0,4% o crescimento de longo prazo do PIB dos EUA. Alguns analistas da Brookings Institution argumentam que o impacto pode ser ainda maior, dependendo de como esses parceiros comerciais retaliarão.
Entretanto, o medo mais amplo é que isso seja apenas o começo. Trump tem demonstrado preferência pela imprevisibilidade em suas políticas comerciais, muitas vezes utilizando-a como uma tática de negociação. Se ele está disposto a impor uma tarifa de 25% sobre o Canadá e o México, há poucos motivos para acreditar que ele não terá como alvo a União Europeia em seguida, um bloco comercial que tem criticado com frequência. Considerando que a UE, o México e o Canadá respondem coletivamente por quase dois terços das importações de mercadorias dos EUA, avaliadas em cerca de USD 3 trilhões em 2024, as implicações para os setores que dependem de mercadorias importadas, como o automotivo e o químico, podem ser significativas.
Um dos maiores desafios na avaliação da reação do mercado às tarifas é a dificuldade de medir com precisão seu impacto sobre os lucros das empresas.
Até mesmo as empresas diretamente afetadas por essas tarifas têm dificuldade para estimar o impacto líquido sobre suas receitas e margens de lucro. A incerteza em torno dessas questões ficou evidente na liquidação de ações de ontem.
Em vez de visar setores específicos que dependem de importações, os investidores pareciam estar se desfazendo dos riscos de forma geral na semana passada. As ações defensivas, setores que normalmente apresentam bom desempenho durante as recessões econômicas, tiveram ganhos, enquanto as ações cíclicas sofreram perdas.
Setores defensivos, como o de bens de consumo básicos (Hershey, Campbell’s) e o imobiliário (ajudado pela queda das taxas de juros) tiveram ganhos.
As ações de tecnologia sofreram o maior impacto. A Nvidia e outras grandes empresas de tecnologia caíram, não necessariamente por estarem mais expostas ao comércio global, mas provavelmente por terem tido uma recuperação prolongada, o que as tornou um alvo fácil para os gestores de portfólio que buscam reduzir o risco.
Os fornecedores sediados nos EUA que competem com importações tarifadas, como a Weyerhaeuser (uma produtora doméstica de madeira), viram suas ações subirem.
As ações do setor de energia também sofreram um golpe, mas isso provavelmente se deveu aos aumentos de produção da OPEP e não às notícias sobre tarifas.
Uma crença comum entre os investidores tem sido a de que os mercados acabarão restringindo as políticas comerciais agressivas. Essa teoria está sendo testada agora. À medida que a retórica tarifária se transforma em política concreta, os investidores estarão observando atentamente se a turbulência do mercado força uma mudança na postura de Trump. Historicamente, seu governo tem reagido a quedas acentuadas no mercado de ações, mas ainda não se sabe se esse padrão se mantém.
Apesar das notícias econômicas e de mercado inquietantes, há um grande desenvolvimento positivo: o crescimento dos lucros corporativos. O S&P 500 relatou um aumento impressionante de 18% nos lucros ano a ano, o crescimento mais forte desde a recuperação pós-pandemia em 2021. Esse crescimento superou significativamente as expectativas dos analistas.
No entanto, esse aumento é resultado principalmente da ampliação das margens de lucro, e não de um crescimento extraordinário da receita. De acordo com a FactSet, as receitas do S&P 500 cresceram a um ritmo mais modesto de 5%, alinhando-se às expectativas. O principal fator foi um aumento de 1,3 ponto percentual nas margens de lucro líquido, elevando a margem geral para 12,6%.
Embora os relatórios de lucros atuais tenham sido sólidos, as expectativas para 2025 estão sendo revisadas para baixo. Um relatório do Citi destaca que as estimativas para os lucros do próximo ano, especialmente em setores cíclicos como o de materiais, foram reduzidas. O setor financeiro continua sendo o único setor em que as expectativas melhoraram, e mesmo esse aumento é mínimo.
Essas expectativas reduzidas resultam de comentários cautelosos da liderança corporativa durante as chamadas de resultados. Devido à incerteza econômica e à imprevisibilidade das políticas, as empresas preferem prometer menos e entregar mais. Essa perspectiva cautelosa contrasta com o forte desempenho recente e resume o sentimento atual do mercado: lucros resilientes hoje, mas crescente incerteza sobre o futuro.
Embora as tarifas e a incerteza da política comercial dominem as manchetes, o crescimento dos lucros continua sendo um forte pilar do mercado. As tarifas continuarão sendo algo a ser observado de perto, mas o desempenho dos lucros é mais importante e deve continuar sendo o foco dos investidores.
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