As recentes ações militares da Ucrânia causaram preocupação e consternação, não apenas por cruzarem o território russo, mas também por desafiarem os limites estabelecidos pelos Estados Unidos. Desde o início da invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia, os EUA têm sido claros quanto às suas intenções: ajudar a Ucrânia a se defender e continuar sendo uma nação soberana. Entretanto, a ideia de levar a luta para a Rússia sempre foi considerada uma ação arriscada, que poderia levar a consequências perigosas.

Após a recente incursão da Ucrânia na região de Kursk, na Rússia, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy expressou sua frustração com as restrições impostas às ações militares da Ucrânia por seus aliados, especialmente os EUA. Ele criticou o que chamou de “conceito ingênuo e ilusório das chamadas linhas vermelhas em relação à Rússia”, no qual alguns dos parceiros da Ucrânia insistiram. De acordo com Zelenskyy, essas linhas vermelhas não são mais relevantes.

Mas será que esse é realmente o caso? As abordagens diferentes dos EUA e da Ucrânia refletem não apenas visões diferentes sobre o grau de pressão que pode ser aplicado ao presidente russo Vladimir Putin, mas também objetivos diferentes. Desde o início, o presidente dos EUA, Joe Biden, tem dois objetivos principais: apoiar a Ucrânia e evitar um conflito mais amplo que poderia se transformar em uma guerra mundial. Se fosse preciso escolher, os EUA priorizariam evitar um conflito global.

A Ucrânia, no entanto, está lutando por sua sobrevivência. Para a Ucrânia, o envolvimento direto dos EUA na guerra seria bem-vindo, mesmo que isso colocasse em risco um conflito maior. Na verdade, de acordo com um livro recente de David Sanger, Biden sugeriu que Zelenskyy poderia até estar tentando levar os EUA a uma guerra maior. Essa diferença de objetivos naturalmente leva a um apetite diferente por riscos. Os EUA têm sido muito cautelosos com relação aos tipos de armas que fornecem à Ucrânia e como elas são usadas. Por exemplo, quando os EUA forneceram mísseis de longo alcance à Ucrânia, impuseram limites rígidos sobre a distância em que poderiam ser disparados. Apenas recentemente Washington permitiu que as armas fornecidas pelos EUA fossem usadas contra alvos dentro da Rússia e, mesmo assim, algumas restrições permanecem.

Essa abordagem cautelosa não se limita apenas aos EUA. Na Europa, também há uma variedade de opiniões. Países como a Estônia e a Polônia, que se sentem diretamente ameaçados pela Rússia devido à sua proximidade, têm defendido a concessão de armas mais avançadas à Ucrânia e menos restrições ao seu uso. Enquanto isso, a Alemanha tem sido muito mais lenta e relutante em tomar tais medidas.

Há muito tempo, a Ucrânia reclama que a cautela de seus aliados mais poderosos está forçando-a a lutar com uma mão amarrada nas costas. Enquanto a Rússia é livre para atacar profundamente o território ucraniano, a Ucrânia tem enfrentado limitações sobre como pode responder. Tanto a Ucrânia quanto os EUA declararam que o governo Biden não foi informado sobre a ofensiva de Kursk antes que ela acontecesse. Isso parece ser verdade, já que os EUA têm um grande interesse em se distanciar de qualquer envolvimento direto em ataques em solo russo.

A decisão da Ucrânia de lançar a ofensiva de Kursk sem a aprovação prévia de Washington é uma reminiscência da abordagem de Israel à ação militar. Israel tem um histórico de realizar ações militares de forma independente, às vezes sem a aprovação dos EUA, partindo do pressuposto de que, se a ação for bem-sucedida, acabará sendo aceita. Se falhar, espera-se que os EUA ajudem a gerenciar as consequências. Por enquanto, há um otimismo cauteloso em Washington com relação à ofensiva de Kursk. Entretanto, ainda há preocupações sobre se as forças ucranianas conseguirão manter o território que tomaram e resistir aos contra-ataques russos no leste da Ucrânia.

Para os investidores comuns, é importante estar ciente desses riscos crescentes, mas não há necessidade de entrar em pânico. Os portfólios de investimentos globais geralmente têm exposição direta limitada a esses conflitos e, embora a situação seja grave, ela está sendo administrada cuidadosamente pelos EUA e seus aliados. O objetivo é continuar apoiando a Ucrânia e, ao mesmo tempo, evitar um conflito mais amplo que poderia ter repercussões globais mais significativas. Os investidores devem se manter informados, mas manter uma perspectiva equilibrada sobre como esses acontecimentos podem afetar seus investimentos.

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